Tuesday, March 14, 2006

Mosca Azul, Agreste & Pequeninos...

Queridos, esse texto que escrevo é mais um traço (auto)biográfico sobre algumas situações inóspitas que aconteceram nesses dias, quando o cinzento cotidiano torna-se multicor, o caminhar desértico é refrescado em oásis existenciais...

...e nessa dinâmica maluca, volto pro deserto, pro agreste. E lá, sou abençoado.
Na Quinta-feira passada, (09.03.2004) fui lá no Itaú Cultural e fui ver uma palestra/entrevista/gravação de um programa (que não me lembro o nome...) que o entrevistado era o Frei Betto. Cheguei, busquei um cantinho (nesses lugares você encontra todo tipo de gente...) e fiquei lá amuadinho, mudinho, aguardando o começo da entrevista/palestra. Ele estava ali pra comentar sobre sua mais nova publicação, um livro chamdo "A Mosca Azul", aonde ele traça um estudo sobre o Poder, das mais diversas formas - política, familiar, religiosa, econômica - na ótica construída sob a experiência pessoal que teve quando era Assessor Especial da Presidência da República, com o Programa Fome Zero.
Assim, ele começa falando trazendo um histórico pessoal sobre sua vida em três focos: A religiosidade - como frade dominicano - do artista - como escritor e literato - e como militante político.
Na parte quando ele falava sobre religiosidade, ele traçou umas palavras algo que me tocou muito. Num momento, logo quando entrou no convento, ele diz que "perdeu a fé". Tudo tornou-se escuro. Ele não conseguia acreditar - ou não - em Deus. Trafegava, trôpego, como diz São João da Cruz, na "Noite Escura da Alma". Aí, o seu superior chegou a ele e orientou:
- Betto, se você estivesse andando numa mata escura e o farol de sua lanterna apagasse, o que você faria?, continuava andando ou esperava amanhecer?
Betto, ainda noviço, claramente responde:
- Espero amanhecer.
E assim, frei Martinho deu as obras de Santa Teresa de Ávila pra ele ler. Assim, Deus saiu de uma consciência cauterizada pela cultura pessoal, católica, de um Ser a ser estudado e partiu para o desfrute, como um eterno caso de Amor.
Ouvir isso mais uma vez não tocou o meu coração, mas as minhas vísceras também. É esse relacionamento visceral que busco ter com Deus...
E falou da relação de Poder que é desfrutada quando as pessoas encontram-se em cargos - sejam governamentais ou eclesiásticos - que o Poder é agregado, e assim, o frade acentuou: - "O homem não muda no poder, mas se revela" - disse também, que "todo poder tem uma intríseca vocação ao abuso".
...
Chegando em casa, orei. Orei pra reforçar o meu pacto com os excluídos, com aqueles quesão esmagados pelo poder abusivo. Seja político, familiar ou eclesiástico.
Passando alguns dias e sendo visitado pelo virús da gripe, aquietei o corpo e sendo cuidado pela minha namorada, num momento de profunda inquietação, combinamos que mesmo carecendo de repouso, íamos ao teatro.
Teatro e Deus são dois sacerdócios viscerais. Ver uma peça é como um culto. Confesso que em muitos momentos há mais verdade, há algo mais vulcânico no palco.
Assim, no sábado, fomos ver "Acunteceu o Acuntecido", com o pessoal que está se formando na ELT (Escola Livre de Teatro) aqui em Santo André. A peça traça-se com os personagens, jogados ao léu, num canto do agreste, logo após à uma catástrofe. E a peça traça-se no meio de um deserto, de um agreste, onde cada um foi traçando respostas e buscas para sobre(viverem) naquele ermo...uns traçavam sobre a ótica política buscando fazer uma "revolução", outros foram pra religião, e outros, sobreviviam...apenas sobreviviam...
Com personagens engraçados, outros brutos, outros desarranjados...porém todos banhados numa sofreguidão imensa. Nessa leitura muito subjetiva, pessoal e espero que não seje egoísta, tracei mais uma vez o meu amor por Deus, se num ambiente ermo, agreste, se O surpreendo com o Amor ou com um coração ressentido. E de como o homem tem um poder de adaptação, mesmos nos lugares e situações aonde crava-se a miséria.
Digo isso, pois num momento, uma personagem, intepretada pela Ciléia, pincela, meiga e atordoante frase:
- Pedi pra Deus um Novo Olhar, E Pedi pro meu Olhar, um Novo Deus.
São nessas horas que percebo como Deus,com suas estratégias, sopra e sopra e continua soprando através do Espírito. A minha oração é que Deus sempre me traga sensibilidade pra poder percebê-lo nas situações mais inóspitas, seja Na Noite Escura da Alma, nos agrestes que cominho e também através dos pequeninos, dos corpos chagados e enfermos que, de forma misteriosa, ali quebra-se o muro da minha arrogância, aonde o pensamento era pra ser "usado" e sim, Sou agraciado com a presença de Deus através dos pequeninos.
Paz & Bem!
B!

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