Friday, August 06, 2004

Entre Minotauros & Compassos Jazzísticos...

Ao som de "Time Machine" de Joe Satriani...
Paz e Bem, meus queridos!!!
Aqui deixo um texto que estava ao relento, escondido e tomara que incomode, console, espelhe....mas que provoque algo.
Abraços...aos que querem recebê-lo, é claro.

F.B.
Entre Minotauros & Compassos Jazzísticos
Acordo. É madrugada.

Imagens Oníricas ainda são latentes na sala-de-estar da minha consciência. Percebo os seres que habitam aqui dentro de mim. São muitos. Monstros, Fadas, Anjos, Dêmônios e uma série de personalidades que só a minha subjetividade - talvez - conheça. Como os sonhos mostram, escancaram e (des)cobrem a nossa falsa intimidade. É como se Alguém abrisse os porões de uma casa abandonada ou os subterrâneos de um castelo frio e de lá saíssem os nossos maiores medos e desejos. Horrores e êxtases. O Sagrado e o Profano que habitam aqui dentro de mim.

Os demônios ainda me perseguem ao sono. Há uma luta, que impede de integrar-me ao Absoluto. De pedir que o Sol me queime de tal forma e que o barro do qual sou formado se derreta para que, aos poucos pedaços sobrados e derretidos, num estado de mágma espiritual, sendo íntimamente purificado, os cacos quebrados e deslocados se ajuntem novamente e me sinta integra e verdairamente moldado nEle.

Percebo, que meu coração é como barro seco queimado ao sol aguardando que essa fome e sede - apenas - seja saciada com Água Viva, na plenitude do Espírito.

Culpas, angústias e mágoas na qual imaginava que não existissem se desenham na forma de serpentes, dragões e outros símbolos nesse Universo que é vivo, logo quando me encontro num "coma voluntário", quando descanso do e no mundo e fico totalmente aceso e aberto ao que há em minha íntima capela. Os cheiros, toques, desejos e êxtases não confessos convencionalmente ao universo e nem a mim mesmo, tomam a forma de curvas, olhares e delícias libidinosas. Então, aos poucos, começo a ter leituras mais profundas dos quadros surrealistas de Salvador Dali. Esses mesmos seres e formas, obras do absurdo da (in)consciência, se ajuntam, grudam, enrolam-se e quando percebo, vejo um Minotauro, personagem mítico grego. Louco pra me devorar.

Me lembro de Teseu, que quando foi ao labirinto enfrentar o Monstro foi zelado pelo fio de Ariadne, amarrado em seu tornozelo. Era o seu elo, embora bem tênue, com a realidade.
Cadê o meu fio?

Muitas vezes, se eu pudesse e fosse o personagem da mitologia grega, matando o Minotauro, logo ia cortar o fio que me integra a realidade. Não voltaria ao universo dos "normais", dos humanos. Não me adapto ao mundo. Não nesse mundo. É Absurdo. Os valores, estilos, egoísmos e a falsa sensação de poder que o homem carrega dentro e fora de si, oprimindo os seus semelhantes, nunca vão auxiliá-los em sua maior luta (ou derrota):

Negar e Vencer a si mesmo. Vencer o Minotauro.

Porém, Teseu passou pelo labirinto e matou o Monstro.

Eu, ainda, tenho que lutar contra o meu Minotauro. Com esse ser Bestial e Pleno, com esse Cristo e Mefisto que se enfrentam, noturno e diariamente, dentro de mim.

Temo e tenho medo do Silêncio. Percebo-me, sou fraco. Muito fraco. Humano, demasiado humano. Tenho consciência e percebo um coração que está inflamado pela dor. Entro quase num processo de esquizofrenia, pois percebo como é difícil suportar a si mesmo. E ainda tenho a dor.

Olho para o lado e vejo um disco de vinil. Coloco-o na "vitrola".

Ouço
"I wish I knew". O piano de McCoy Tyner somado ao baixo acústico de Jimmy Garrison, as levadas da batera de Elvin Jones harmonizam-se totalmente com essa luciferiana sedução emitida nas notas do Sax Tenor chamado John Coltrane, esse Anjo Negro do Jazz. A música é Universal e até os mais brutos, que não tem o costume de ouvir sons tão distintos, porém, muito humanos, deixam-se ser enfeitiçados pela melodia desse Mago das notas dissonantes.

O disco chama-se "Ballads" e completando, até manchando essa obra-prima, atrevo-me a dizer que esse disco devia denominar-se "Ballads of Soul". É dialogo de alma para a alma. São poucos que possuem esse dom, essa maldição, de conseguir esse diálogo íntimo. Enquanto não consigo tal dádiva, deixo Coltrane conversar com o meu espírito e expiar os demônios que há nesse templo destruído, nessa casa abandonada.

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