Monday, October 09, 2006

Bem-me quer ou mal-me-quer?

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Bem-me quer ou mal-me-quer?
(Bruno de Assis)

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A Amizade, que é essa busca - e um possível encontro - de unidade com o outro, traça-se na linha tênue das relações cotidianas. Nietzsche, em "Assim falou Zaratustra", em um dos seus aforismos, dizia, "A nossa fé nos outros revela aquilo que desejaríamos acreditar em nós mesmos. O nosso anseio por um amigo é nosso delator". A amizade agregada - não todas as vezes - com uma dádiva misteriosa, incogniscível, que é o Amor. Em diversas perspectivas relacionais, há os amigos, que se unem por uma empatia de desejos, gostos, trabalho...mas não há amor. Porém, onde há Amor há amizade. Amizade profunda, profícua. Há amigos mais "chegados" que o irmão de sangue ou de vida fraterna.

A amizade reflete esse desejo de unidade com o outro, esse íntimo e escondido anseio por complementaridade. Diferente das relações políticas - melhor, politiqueiras - nas quais a troca de favores, influências e articulações prevalecem sobre os graus de amizade, confiança, lealdade, unidade de afetos que são demonstrados na amizade pura. Sem trocas, apenas na livre doação de si para a gratuita dádiva de estar com o outro.

Agostinho de Hipona, traça a seguinte reflexão "Nós amamos o amor, mas não sabemos amar". E isso indica que na amizade há o risco do erro. - tanto o nosso como do outro - e somada a nossa patética tentativa de projetar o amor que sentimos pelo outro. No grego, há o termo "Phylia" que focaliza o amor no sentido fraterno, da amizade e não como traçado no Ocidente, onde o Amor é um termo abstrato, imanente, ausente de sentido e significado nunca encarnado. E quando "encarna-se" há sempre um teor sexual.

Na peça "Entre Quatro Paredes" do filósofo e dramaturgo Jean Paul Sartre , através um dos personagens que expõe "O inferno são os outros", ali era profetizado o mal-estar que também é gerado no encontro com o outro. Percebemos isso frequentemente na vida em sociedade na qual a relção do humano foi trocada pelo objeto.

Hoje, os apartamentos são arquipélagos de solidões.

Poucos são os que rompem a fronteira dessas "ilhas" e simples como pombas, porém, prudente como as serpentes, promovem a dáviva - e o raro - encontro com o outro, apenas devendar e saber quem é - de verdade - o outro. Percebemos, que boa parte das relações são diabólicas. Diabo, vem do grego "diabolos", que significa divisor, des-união. E isso é ótimo para o "deus mercado", arquitetado e comandado pelo "Capetalismo". Frustrado, o homem busca a unidade em um objeto inanimado, como o carro, rádio, "zapelar" diante da TV....e o vazio é dilatado. Lembrando que o Vazio sempre retorna. Com mais intensidade.

Tomás de Aquino, dominicano do século XIII, dizia que quando se silencia, - o que é totalmente fora dos padrões contemporâneos - o homem pára para estar consigo mesmo, ele pode "encontrar um outro que conhece a mim, mais do que eu conhço a mim mesmo, e no entanto, Ele revela a minha verdadeira identidade". Assim, em Unidade, o Homem encontra-se em aberto a encontros saudáveis, sem barganhas, politicagens e disposto a oferecer ao outro o que há melhor em si.
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Paz & Bem!
B!
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