Monday, October 19, 2009

O Império do Vazio.

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O Império do Vazio.
(Bruno de Assis)


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Vertigem.

Esse é o sentimento que emula-se nos indivíduos em nosso tempo quando visitados por múltiplas - estranha-se - vivências.

Euforia. Depressão. Gozo. (in)sanidade. Torpor. Introspectividade. Percebe-se que a plenitude dessa vertigem quando expressada por uma palavra que agrega mistérios...

Vazio.

Vazio existencial. Vazio de pessoas. Vazio nas pessoas. Vazio de abraços. Vazio nos abraços. Vazio de sexo. Vazio no sexo. Vazio de uma plenitude nunca experimentada, desconhecida. Vazio de verdade. Vazio na verdade. Vazio de alimento. Vazio do Outro. Vazio do Grande Outro...talvez, Deus.

Talvez se estivéssemos tão vazios de Deus estaríamos reduzidos ao nada.

E o que é o Nada?

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A sociedade e o espírito que rege nosso sôfrego cronômetro cerca-nos com silenciosos estímulos com o apelo pelo acúmulo. Acúmulo de bens. Acúmulo de consumo. Acúmulo de bens de consumo. Acúmulo de gente. Acúmulo de alimentos. Acúmulo de prazer. Dinheiro. Informação. Futilidades. Acúmulo de Gigabytes no universo informático. Acúmulo de necessidades fomentadas não pelo que - necessariamente - careço e sim, por pulsões excitadas por agentes theo-midiáticos. Ou não. E o que desejamos de verdade? Inconsciente e misteriosamente - querendo ou não - cedemos aos apelos do mundo meta-midiático.

Muitos consomem e consomem-se treslouca e compulsivamente. Outrora, buscam afirmar-se com seus - infantis? - objetos de consumo. O alvo náo é o objeto de consumo "em si", mas um outro algo "que não sabemos bem o quê é". Carros? Roupas? Gestos? Status? Gente? Consomem e - vá saber? - são sutilmente consumidos. Por quem? Pelo quê?

O olhar que buscamos filtrar e lapidar nessa breve provocação não é somente questionar ou "criticar" o consumo, o acúmulo, o vazio ou a vertigem. Não, não.

É perceber que - talvez de forma inconsciente e mudando a ótica sobre esse prisma do vazio - há uma idolatria, um "culto" ao vazio.

Ora, como ele é uma "entidade" que não posso controlar, dominar ou ter uma autonomia. Ora, será que o trato como um "deus" - já que desconheço tal "fenômeno" quase que metafísico. Assim, trago os meus objetos de culto pra suprir tal falta, como a "oferenda" - a roupa que visto, o carro que exibo, o dinheiro que ofereço - à entidade que devoto. Entidade essa que pode ser o meu Ego mal orbitado pela vaidade ou o Vazio vertiginoso. Cabe escolher. Cabe discernir qual deus desejo prestar culto.

Ou não.

(continua...)

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Santo André, 20.10.2009. Ao som de "fun for me" do Moloko. 01:14 da manhã.

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