Friday, July 29, 2005

Fragmentos de um diário - NADA esquecido. Segunda Parte...

Se Agostinho tinhaas suas confissões...
....aqui faço as minhas,
Pax!
B.
* * *
Mais uma vez, estou de volta.

Tenho que te fazer um agradecimento. Quero agradecer pela Comunidade.

Comum Unidade.

Com Unidade.

Você sabe e tem consciência do quanto hoje isso me tem feito bem. A Comunidade de Jesus é o único lugar que achei ninho, fui aninhado e ando aprendendo a aninhar o outro. Mas creio que a minha missão é aninhar a Santíssma Trindade em meu peito, em meu coração, lá onde habita uma manjedoura de ingratidões. Mesmo assim, Tú resolveste habitar por aqui...

Comungar com o Baygon, Jussara, Daniel, Lisa, Cinha, Juliana, Gerson...como ele tem me abençoado! A Casa-Ninho da Neide traz um ambiente que me conduz à chegar mais perto de Ti, uma ambiente orante, aconchegante. O Antônio Carlos, Nati...mostram-se muito amigos, acolhedores. Ver o Bernardo crescer e brincar escancara o sentimento de uma "paternidade escondida", aqui, dentro de mim. Cuide do David, Márica, Renata e do André. Pai, cuide do meu diretor espiritual. Abrace-o nessa Noites Escuras ou nos Dias de Tristeza, mas abrace-o! Cuida da Amanda, Ivo, Deda....do Eduardo, da Josye...Pai, as pessoas são muitas, os motivos e anseios do coração, múltiplos....cuide deles, ampare-os e "invade-os" (pois o Senhor não invade....) com a Tua Presença na Vida deles. Quero mostrar a minha presença e força somente quando tá tudo lindo, masquando "a casa cai" também...

Obrigado pelo cursinho. Sei que não tenho aproveitado, mas tenho feito a minha parte. Estudar cansa, leva tempo, renúnica, me ajude, meu Pai. Que eu estude com maior afinco....vontade....que eu me "ambiente" com a Física, ou seja "amigo" da Matemática. Que eu pare de faltar nas primeiras aulas. Preciso me disciplinar....

Obrigado pela Juliana, pelo cuidado dela. Tenho que cuidar dela também. Aliás, preciso aprender a cuidar das minhas coisas, das pessoas e das pessoas que amo...

Pax & Bem!!!

Seu filho que hoje escreve, escreve....

B.

Fragmentos de um diário - NADA esquecido.

Pai,

....volto a escrever, esta é minha forma de orar, minha íntima oração. Confesso que parar e me silenciar anda difícil, o meu espírito não consegue se aquietar em Teu Espírito. Percebo que não tenho o meu Sabbath, o momento de descanso comtemplativo, de não fazer, e sim, ser em Ti. Com a agitação do cotidiano, nesse "deserto de concreto e aço", não percebo os "oásis" que me são oferecidos nessa caminhada. Sim, até percebo, mas preciso - parar - e beber da Fonte de Agua Viva, e também ser o manancial de Água Viva, oriundo da Tua Fonte, sendo auxílio e reforço aos peregrinos que passam por minha volta...

Me ajude a conduzir a minha vida financeira, que eu a use com sabedoria e diligência. Que o pouco - ou o muito - que vem de Ti seja bem usado, me ajude a conduzir a vida emocional, afetiva, espiritual conforme o Senhor mostra e revela. Já tenho tão pouco e o tão pouco, quero que seja como os "cinco pães e dois peixes", não pra minha EGO e cêntrica vontade, mas sim, num investimento saudável, inteligente e quando for da Sua Vontade, centrado no outro e sempre focado no Grande Outro.

Pai,

...às vezes as minhas sombras me assustam. O terror das minhas vontades, das minhas neuroses e a cobrança que vem do outro. E as minhas também....eu me cobro muito, eu sei. Ajuda-me a caminhar contigo pra conseguir abraçá-las e enfrentá-las "téte a téte"...que eu reconheça a cobrança que o outro me faz, mas que eu não o culpe como fonte das minhas neuroses. Que eu chame a ansiedade de ansiedade e não de inquietação, impulsão ou a disfarce no serviço ao outro. Pois "tenho que fazer algo pra não ficar parado" é uma desculpa, da mácula da minha ansiedade mal-resolvida. Vou "fazer algo" porque quero e preciso fazer algo, e não por uma inquietação íntima, nada saudável....se sirvo e ajudo é porquê quero ou há a necessidade de servir e não por uma compulsão de "querer ajudar todo mundo" e minha subjetividade nessa loucura, torna-se totalmente fragmentada, quebrada, carecendo a minha pessoa seja o paciente (que necessita do cuidado) e não o agente ativo (que traz e oferece cuidado...)

Logo estou de volta,

Seu filho e esposa,

B.

Wednesday, July 13, 2005

Bra(z)il: País esqui(z)ito?

Esse texto escrevi numa aula de redação lá no cursinho,

Esse texto eu dedico pro Leandro Popeye e pra namorada dele, se não me engano, chama-se Paola.

Abraços,

B.

Bra(z)il: País esqui(z)ito?

Será o Brasil um país "esquizofrênico" em sua identidade nacional e cultural? Diga-se "esquizofrênico" em sua raíz etimológica, vindo do grego, que significa "rachado, separado, fragmentado". Em nosso "caldo cultural", há tempêros - dos mais deliciosos aos mais amargos - que pontuam desde as raízes africanas, portuguesas, indígenas, espanholas....até judaicas e arábicas. Descobrimos diversos sabores, mas não reconhecemos o sabor da nossa terra.

Isso traz no histórico de nosso país - as boas e as más - conseqüências desses "encontros". Quando colônia, as terras - e as mulheres indígenas - do Brasil foram estupradas pra saciar as vontades - de riquezas e sexuais - herdando traumas e erosões na terra - e na alma - brasileira. Pelo amor (?) - e pela dor - filhos e filhas foram trazidos ao seio dessa terra. Filho do estrangeiro, sendo português, a criança não era lusitana. Da mãe indígena herdava os traços físicos e fisiológicos, não em sua totalidade. O que é como era denominada essa vindoura geração?

?

Por outro lado, com o advento dos anos, o Homem Africano, feito escravo, imigrou para as nossas terras e durante mais de três séculos trouxe sua força, sangue, trabalho e religião, sendo marginalizado e explorado pelo "Senhor de Engenho". Mesmo diante dos sofrimentos, do banzo (denominação africana para a "saudade" da Terra Mãe) somando o contato com o europeu, essa mistura trouxe-nos o mulato, o samba, o chorinho (o samba somado com o melancólico fado português), as cantigas de roda e múltiplas vertentes musicais e culturais.

Com a "herança escravista", hoje o nosso povo - e a sociedade em si - perdeu muito a auto-estima, ou então a valorização do que produzimos aqui - do artesanato à construção intelectual - tendo que obter aaprovação "de fora", do "senhor de engenho" herdado em nosso inconsciente coletivo.

Temos Villa-Lobos, Tom Jobim, Chico Buarque, Radamés Gnatalli, Rafael Rabelo e Hermeto Pascoal - muitas vezes valorizados pelos europeus e esquecidos - ou não lembrados - em nossa pátria.

Temos Luís Câmara Cascudo, Mário de Andrade e Darcy Ribeiro que viu, percebeu e escreveu a nossa terra como ninguém. Mas, descobrimos que a visão acadêmica de Pierre Verger, Roger Bastide é mais "autêntica" do que o olhar do brasileiro sobre a sua própria terra.

Se o Brasil é um país esquizofrênico? Sim e Não.

Por muito tempo, a visão que tínhamos de nós mesmos era eurocêntrica. Hoje, com o apoio de universidades, sociedade civil e ONG's estão aumentando o leque de pessoas e intelectuais que pensam o brasil a partir do Brasil, como sonhava Câmara Cascudo. Os passos são ínfimos ainda, mas na construção da identidade, na percepção dos fragmentos sociais - e principalmente - no reconhecimento dessa "miscigenada brasiléia desvairada" não seja uma interrogação sem respostas.

Sobretudo Quando Chove....

Amados, Desalmados, En-Graçados & Des-Graçados.

Católicos, Crentes, Budistas & Umbandistas...

Aqui mando mais um "devocional"...feitos nessas Noites Insones.A letra "Sobretudo Quando Chove" é do Gerson Borges. Só Deus é testemunha do quanto ele tá me abençoando....essa letra vai sair no novo CD do Gerson, aí vocês tenham idéia da Poesia, imagine Melodia....E depois, há um texto que foi como a minha alma respondeu à melodia e o texto, juntamente com a leitura de um texto do Henri Nouwen, "A Volta do Filho Pródigo". E em cima desse livro que o Gerson compôs as melodias e harmonias...

Leiam. Discirnam e que Deus nos abençoe.

Pax & Bonum!!!

B.


Se uma lembrança me restasse
Eu lembraria do Por-do-sol
Ou se uma só herança me bastasse,
Um Rouxinol
Que cantasse a dor das distâncias
E curasse essa saudade
A me invadir enquanto eu canto
Sobretudo quando chove

Se toda a poesia numa palavra
Eu ficaria com Jardim
E um tipo só de arbusto ali se lavra,
O Alecrim
Concentrando o cheiro do Longe
Acalmando essa saudade
A me invadir enquanto eu canto
Sobretudo quando chove

E chove, e chove, chove sem parar
Enquanto eu canto, canto
Ao te esperar

Se cada vez que penso no teu rosto
Vento virasse um vendaval
Desabaria o céu com muito gosto
Que Temporal!
Tormenta no mar da memória
Rimando com essa saudade
A me invadir enquanto eu canto
Sobretudo quando chove

...Sobretudo quando chove.

Pai Amado

...e Amante.

....ouvir "Sobretudo quando chove", ouvi a sua voz me chamando, Pai. Como é doce ouvir a Tua Voz, vendo o teu sentimento escancarado, a saudade que você sente, o sentido e a vontade de sentir "na pele" o abraço.

Pai, há momentos que "estou" o filho mais novo, errante, numa Terra Distante, Longínqua...comendo as bolotas dos porcos e aguardando "cair em si". Aliás, já caí...e estou indo de volta pra casa, peregrino nesse deserto de incertezas, mas aguardando uma única esperança: o Abraço e o Beijo do Pai.

Há momentos que "estou" lá em casa, ao teu lado...e não desfrutando da tua Presença, do cuidado desse Deus que é Mãe, que cuida como Mãe Generosa, nutrindo a minha afetividade com o Teu Amor...

....mas, percebo que estou lá, apenas existindo e não curtindo a Tua Presença e Pessoa. Vendo o irmão - boêmio, sujo e rebelde - traz em minha subjetividade sentimentos hostis, maldosos, ciúmentos, a putrefata subjetividade, carregada de lúgubres impressões...

Vejo o Pai. Deus que é Pai e que é Mãe. Quando olho os meus relacionamentos, amizades...raramente sou o Pai.

Que acolhe.

Que abraça.

Aninha.

Protege.

Encarna Graça.

Me traga esse Espírito, que minha alma seja habitat da Trindade e que essa mesma alma se torne um Jardim...e não um deserto. Que os outros e a Trindade se sintam acolhidos em meu íntimo...

Que saudades de Ti!

Engraçado, tenho saudades do Futuro...

...Sobretudo quando chove.

Te Amo, mesmo distante,

Seu Filho,

Bruno da Trindade.

Sábias Palavras....

"Que importa que eu seja uma choupana se mora em meu barraco a Santíssima Trindade?"
Dom Helder Camara Rio de Janeiro, 28/7/52.